A Globalização


Percursores da Globalização


1.      Embora possamos falar em Globalização a partir dos anos de 1980, existem já alguns conceitos e pensadores que antecipam o fenómeno da Globalização e as suas principais consequências. O primeiro percursor é a teoria da modernização, a qual defende que após a revolução industrial os contatos entre sociedades por causa do comércio e da indústria alterou os processos políticos, económicos e sociais. O próprio Estado passou a ter de se preocupar com a importância que outros atores foram adquirindo e que colocaram em causa o seu poder absoluto.

2.      O segundo percursor surge em 1960 com Rostow, o qual defende que o crescimento económico segue um padrão igual em todas as economias, ou seja, à medida que um país se consegue industrializar também consegue maior segurança para a sua população através da adoção de políticas capitalistas.

3.      O terceiro percursor fala sobre a interdependência económica e na consequente ideia de “Teia de Aranha” (J. Nye), isto é, o surgimento de atores transacionais (ex.: multinacionais, associações, movimentos ou organizações internacionais), conduz ao enfraquecimento do poder de cada estado devida à interdependência existente entre as sociedades. Daí afirmar-se que “O bater das asas de uma borbuleta na Ásia pode provocar um Tsunami no Ocidente”.

4.      O quarto percursor fala do conceito de “Aldeia Global”, onde se defende que as comunicações eletrónicas e as novas tecnologias permitiram encolher o mundo, ou seja, conseguimos mais rapidamente assistir a acontecimentos em tempo real, independentemente do local onde eles estejam a realizar-se. Estes autores falam por isso na diluição do tempo e do espaço.

5.      O quinto e o sexto percursor evidenciam as tentativas falhadas da criação de uma ordem mundial sem conflitos baseada numa entidade de governação mundial. O exemplo mais bem elaborado que tivemos foi a criação da ONU, a qual apesar de ter sido criada no final da 2ª Guerra Mundial conseguiu assumir esse papel preponderante nas relações internacionais.

6.      O sétimo percursor defende a imergência de uma sociedade internacional por duas razões: a primeira porque ao longo dos séculos os governadores tentaram encontrar pontos de entendimento; Em segundo lugar porque a própria Sociedade Civil, independentemente da sua nacionalidade defende os mesmo princípios e valores.

7.      O oitavo percursor deriva da “Teoria do Fim da História” (Fukuyama). Segundo este autor foi criado um tipo de regime com que comprovou ser melhor que todos os outros regimes anteriores, dado que conseguiu promover a paz, a segurança e a expansão económica. Esse regime é conhecido como Democracia Liberal.

8.      O nono percursor fala da “Teoria da Paz Liberal” a qual vem confirmar o pensamento de Fukuyama, ou seja, a existência de democracias liberais permitem uma maior purificação do sistema internacional, dado que ainda não se verificou o início de uma guerra que tenha sido provocada por duas democracias. Tal situação é influenciada também pela capacidade de influência e pressão que as opiniões públicas conseguem ter nesse tipo de regimes limitando a ação dos ser governantes.

Conceito de Globalização

O termo Globalização é de origem Anglo-Saxónica e pretende caraterizar o Sistema Internacional a partir dos anos 1980. A abertura das fronteiras económicas favorecida pelo fim da Guerra-Fria (1989- Queda do Muro de Berlim e 1991- Fim da URSS), conduziu a uma nova etapa onde o capitalismo prolifera na maioria dos estados.
Para podermos falar da Globalização temos de identificar os três principais fenómenos que estão na sua base:
1.      Aparecimento de tecnologias de informação que aceleraram a capacidade de atuação internacional das entidades financeiras;
2.      A expansão da atividade das empresas que rapidamente optaram por estratégias multinacionais;
3.      E finalmente, as preocupações com as questões climáticas e ecológicas que preveem deste aumento de atividade económica.
Face as estes três fenómenos os Estados não têm capacidade de controlar estes novos movimentos, já que não existe quase nenhuma regulamentação internacional.
Por isso podemos dizer, de acordo com a OCDE, a Globalização resume-se à instalação de redes planetárias, onde os Estados se tornaram cada vez mais independentes.
Embora a maioria dos autores compare a Globalização apenas a questões económicas, este fenómeno também tem influência em todas as outras áreas da vida em sociedade, desde as questões culturais e políticas às sociais e mesmo religiosas.
Existem outros autores que condenam o fenómeno da Globalização, considerando-a apenas uma nova forma de domínio dos países ocidentais e economicamente mais fortes em desenvolvimentos ou com as outras características civilizacionais (como é o caso dos Muçulmanos).
Os EUA conseguiram ter um lugar de destaque neste processo de Globalização, já que são o maio mercado de capitais, a única potência cm capacidade militar para intervir em qualquer parte do mundo; Influenciam e uniformizam gostos culturais e são ainda um dos maiores países poluentes do mundo.
Todavia, tal como diz Moisi nada no mundo pode ser feito sem os EUA, mas pouco os EUA também pouco podem fazer sozinhos, ou seja, também eles estão sujeitos Às crises financeiras mundiais, ao terrorismos, ao narcotráfico ou mesmo ao aquecimento global.
Nenhum país no mundo consegue ser totalmente isolado, já que esta interdependência consegue sempre penetrar em todos os países seja de forma negativa ou positiva. Também é por causa da Globalização que se conseguem reforçar fundamentalismos e criar redes terroristas com capacidade de intervenção mundial.

Dimensões da Globalização

O sistema internacional atual, marcado por todas as consequências positivas e negativas da Globalização, transforma-se num mundo complexo, onde as problemáticas são comuns à maioria dos estados.
Em primeiro lugar podemos dizer que o sistema internacional carateriza-se como um mundo policêntrico, isto é, embora os EUA sejam ainda considerados a única superpotência mundial (com capacidade de intervenção em qualquer parte do mundo é necessário analisar constante evolução das relações económicas, políticas e sociais para perceber a capacidade eu cada estado tem para conseguir tornar-se num protagonista das possíveis configurações geopolíticas e geoestratégicas.
Em segundo lugar podemos ficar também num mundo de contrastes, ou seja, haverá sempre assimetrias ao nível económico. Social, político, religioso, entre outros, que se têm aprofundado entre os designados países desenvolvidos e países que lutam pela sua sobrevivência num sistema internacional cada vez mais competitivo.
Em terceiro lugar falamos de um mundo fragmentado dado que não podemos afirmar que existem espaços territoriais completamente estáveis, separados nos territórios subdesenvolvidos.
Atualmente os continentes assemelham-se a uma manta de retalhos onde coabitam situações antagónicas e perigosas para equilibrar o sistema.
Conseguindo compreender estas três caraterísticas conseguirmos identificar as diversas dimensões da Globalização:

1.      Dimensão Económica: Qualquer empresa pretende internacionalizar a sua atividade de forma a conseguir garantir a sua sustentabilidade e competitividade em relação dos concorrentes. A mundialização das atividades económicas obriga à definição de estratégias empresariais que apostam na quantidade e produtividade;

2.      Dimensão Política: A capacidade de cada estado ganhar protagonismo no Sistema Internacional pode ser alcançada através de acordos que lhes permitam proteger os seus interesses e ter uma voz mias forte em relação a estados com maior poder.

3.      Dimensão Jurídica: A transnacionalização das atividades económicas provou a necessidade de serem criadas normas internacionais que consigam regular essas mesmas atividades (ex.: para a área do comércio existe a OMC).

4.      Dimensão Cultural: Apesar da homogeneização que os EUA tentam fazer no resto do mundo, criando uma cultura uniforme, assistimos a um conjunto de movimentos que procuram salvaguardar as culturas e as identidades de cada povo.

5.      Dimensão Religiosa: As questões que se baseiam em fundamentalismos religiosos são das maiores anomias das relações internacionais dado que facilmente provocam conflitos impossíveis de serem resolvidos;

6.      Dimensão demográfica: Os fluxos migratórios são um dos maiores desafios internacionais pois as populações tendem a procurar os territórios que consideram economicamente e socialmente mais estáveis.

7.      Dimensão Social: O poder mundial e a capacidade de pressionar o rumo das relações internacionais deixou de estar concentrado nos líderes políticos e religiosos. Atualmente existe uma multiplicidade de atores que conseguem influenciar mais que alguns países (ex.: multinacionais, líderes de opinião, entre outros).



Teorias da Globalização

Para compreender o sistema internacional influenciado pelo fenómeno da Globalização, existem 3 teorias principais:

1.      Realismo: Para os autores realistas, apesar da influência económica e da interdependência sociocultural que existe entre os diversos Estados, a Globalização não conseguiu alterar o quadro da política mundial, já que o planeta continua a dividir-se em Estados-Nação independentes e que desempenham a soberania total no seu território. Isto é a Globalização não tornou obsoleta/ ultrapassada a luta internacional pelo poder político e pelo protagonismo e prestígio internacional dos Estados. Para esta teoria o Estado continua a ser o principal ator das relações internacionais.

2.      Liberalismo: Nesta teoria defende-se que as entidades com poder económico (multinacionais) conseguiram ultrapassar o Estado ao nível da capacidade de influenciar o sistema internacional através da interdependência provocada entre as sociedades. Sendo o sistema internacional visto como uma “Teia de Relações”, a noção da separação entre Estados soberanos deixou de ser o ponto fulcral das relações internacionais.

3.      Teoria do Sistema-Mundo: Esta teoria defende que a Globalização é apenas um termo diferente ara aquilo que antes se chamava Colonialismo, ou seja, em vez de contribuir para nivelar/ equilibrar o desenvolvimento entre os Estados limitou-se a perpetuar as diferenças e os fossos entre os ricos e os pobres. Neste sentido o sistema internacional, divide-se em três partes o centro, a semiperiferia e a periferia.

Argumentos a Favor da Globalização

Existem diversos argumentos que tentam realçar as vantagens do fenómeno da Globalização. Os mais importantes são os seguintes:
1.      A influência da transformação económica é tão grande que conseguiu transformar todo o sistema internacional, tornando o planeta mais permissivo e os estados deixaram de conseguir fechar-se e controlar a economia;

2.      A revolução das tecnologias de comunicação permitiu um maior conhecimento real e permanente de tudo aquilo que acontece em todo o planeta. A própria noção de grupos sociais onde trabalhamos e vivemos foi alterada, já que podemos pertencer a grupos onde os seus elementos estejam geograficamente dispersos por diferentes regiões do mundo;

3.      A difusão dos valores ocidentais, liderados pelos EUA conduziu a uma cultura global e comum onde a maioria das comunidades partilham os mesmos valores;

4.      O Mundo tornou-se mais homogéneo, já que os gostos a diversos níveis (moda, tecnologias, gastronomia, entre outros) são uniformes na maioria dos países. De facto conseguimos encontrar as mesmas lojas na maioria das cidades do mundo;

5.      A velocidade das comunicações conduziu à sensação de diluição do tempo e do espaço;

6.      Emergência de uma Política Global, dado que os problemas e os desafios são globais, surgiram também movimentos transnacionais que procuram responder a esses problemas, bem como foram criadas organizações e entidades internacionais tais como a ONU, a OMC, a OMT, entre outras;

7.      Cultura Cosmopolita, existindo um conjunto de valores comuns a todo o sistema internacional, há uma preocupação em agir no local onde residimos, de forma a que não tenha impactos negativos ao nível Global (“pensar globalmente e a agir localmente”, como por exemplo a reciclagem estamos a agir localmente mas a contribuir para um problema Global);

8.      Emergência da Cultura de Risco (é uma vantagem da globalização porque se sabe e há mais informação sobre os problemas tornando-se mais fácil controlar), a possibilidade de acesso a informação sobre todos os temas facilita o controlo e mesmo a prevenção de problemas como a poluição a sida o tráfico de seres humanos.


Argumentos contra a Globalização

1)      Última fase do capitalismo, tal como defende a teoria do sistema mundo o termo de Globalização é apenas um neocolonialismo, ou seja, as economias mais fortes continuam a dominar e a explorar as mais fracas. A economia mundial contemporânea é um mito porque não é a primeira vez que acontece o processo de Globalização (ex.: os descobrimentos portugueses foram um dos primeiros tipo de Globalização); A maioria das empresas não tem verdadeiras estratégias mundiais; não há uma aposta sincera no investimento e desenvolvimento dos países subdesenvolvidos; E a economia mundial está concentrada entre a Europa, os EUA, o Japão e os BRIC (Brasil, Rússia, índia, China).

2)      Desigualdade dos efeitos a capacidade de acesso as vantagens da globalização não é a mesma para todos os países, existindo mesmo alguns territórios que nem acesso à internet têm;

3)      A Globalização é uma mera fase do imperialismo ocidental onde a civilização do ocidente tenta espalhar os seus valores em detrimento das outras civilizações e visões do Mundo;

4)      À medida que o mundo se globalizou assistimos à perda de costumes, tradições e valores de algumas regiões;

5)      Nem todas as forças globalizadas são necessariamente boas (ex.: narcotráfico, terrorismo, anarquia da internet).

6)      Se a Globalização simboliza o triunfo dos valores ocidentais, dificilmente conseguiríamos explicar o sucesso que alguns países de outras civilizações têm conseguido alcançar como é o caso dos Dragões Asiáticos (Singapura, Taiwan, Malásia, Coreia do Sul).

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